Bullshit jobs – esse é seu emprego!

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O antropólogo americano David Graeber publicou recentemente uma tese de que mais de um terço dos postos de trabalho são desnecessários. Assim, ele acha que as atividades não manuais poderiam ser assumidas por robôs. Como tarefas de escritório, alguns setores de serviço, consultorias, financas, administração, recursos humanos entre tantos outros.

O que ele chama de “bullshit jobs“. São aqueles empregos que ninguém notaria se eles desaparecessem de um dia para o outro. Ele baseou a sua tese em auto-relatos de funcionários que executavam esses postos de trabalho.

Ele constantemente encontrou pessoas que estavam relutantes em discutir o que faziam durante todo o dia, porém algumas bebidas depois, eles entregavam que não faziam nada significativo.

Sentados em reuniões, apresentações, que ninguém precisava. Escrevendo relatórios de avaliação, que eram imediatamente esquecidos. Ou eles passavam metade do dia no Twitter, Facebook ou Youtube.

Imagina como não deve estar agora em 2018 !?!?!

Esses dias encontrei com um amigo, ele me disse exatamente a mesma coisa. Estava cansado do setor corporativo e queria buscar alguma coisa nova para empreender. Eu questionei-o, mas você tem um bom emprego, tem certeza disso? A sua resposta, foi que ele não estava feliz no trabalho, porque chegava no final do dia e ele percebia que só tinha executado bullshit job.

Graeber indicou inúmeros empregos que você poderia pensar em acabar que geraria uma economia e uma melhor administração e que ninguém notaria a sua falta.

Se os médicos e enfermeiros, cozinheiros e encanadores, professores e lixeiros desaparecerem, logo todos nós perceberíamos. Mas o departamento de relação públicas das universidades e empresas? Os lobistas? Consultores? Aquele gerente puxa saco do seu setor ? E muitos outros empregos que não agregam em nada no final das contas. Se todos eles sumissem ninguém sentiria falta.

E essa teoria pode ser vista em várias empresas da bolsa, você vê que tem empresas com quadros gigantesco de funcionários que não havia necessidade. Manchete como essas são repetidas todas as vezes quando ume empresa entra em dificuldades.

Isso foi ha 4 anos atrás.

O mercado acaba entrando numa bola de neve de contratações. Em grandes empresas, o status dos gerentes, depende de quantos outros gestores estão abaixo de você. O crescimento da empresa acaba forçando trazer mais e mais pessoais que são responsáveis pela coordenação e comunicação.

Veja só um outro exemplo, esses dias o Evernote, uma empresa responsável por um aplicativo que faz uma única tarefa: gerenciar notas. Eu utilizo-o a muito tempo e o aplicativo é bom. O Evernote anunciou que estaria demitindo 54 funcionários, que equivaleria a 15% da sua força de trabalho. Fazendo o calculo reverso chegaríamos ao montante de 360 pessoas trabalhando na empresa.

Sinceramente um aplicativo que executa uma única função precisar de 360 pessoas, ou o administrador é muito incompetente ou está repleto de bullshit jobs lá dentro.

Agora porque uma empresa não vai se auto-gerenciando e buscando cortar essas arestas evitando que a coisa perca o controle. Porque os administradores só resolvem demitir quando a crise chega. O certo seria evitar de contratar mão de obra desnecessária.

Mudanças sentimento nos postos de trabalho de 1950-presente.

Tem um Paper muito interessante do Greg Kaplan e Sam Schulhofer, confira aqui a fonte. Eles fizeram um levantamento sobre o sentimento das pessoas sobre o trabalho desde a II Guerra Mundial até hoje. E percebeu-se que as pessoas não iam mais ao trabalho apenas para ganhar um salário. As pessoas estão buscando cada vez mais se identificar com a profissão.

Outras primícias podem ser extraídas do estudo, nós podemos identificar que ao longo do tempo o trabalho tem sido menos físico e mais mental. Veja que temos uma queda vertiginosa no cansado (tired) e dolorido [acho que a tradução melhor seria desgastante] (pain) e uma subida considerável nos níveis de stress.

Nesse estudo do Kaplan e Schulhofer passo a entender os motivos por traz do pedido de demissão do meu amigo. Deve ser muito frustrante para o empregado chegar em casa no final do dia, e não ver que seu trabalho rendeu frutos. Não estou nem considerando ainda o fato do cara que trabalha num emprego que não gosta. A coisa aqui é um estagio ainda pior.

Você identificou-se como sendo um bullshit jober, não fica chateado. A culpa não é sua. Isso é dever do gestor identificar essas situações e evitar que isso aconteça.

Uma das grandes preocupações que tenho com a minha equipe é mante-los atualizados e sempre mandar um feedback do trabalho deles, para que eles possam ver os resultados.

Uma entrevista com o Graeber.
Desculpem mas não encontrei um vídeo legendado.

A ideia desse artigo não é trazer toda a teoria do “bullshit jobs”, mas apenas para despertar sua curiosidade sobre o tema. Tem diversos vídeos do Graeber no Youtube. Além deste livro na Amazon que explica toda a teoria.

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20 COMMENTS

  1. Outro fato é que sempre vai ter empregos que o contato humano é importante, quantas vezes não gostamos do serviço prestado justamente pelo fator humano de ser bem tratado?

    • sim, isso sem duvida

      eu não disse que todos os empregos iriam sumir.

      mas que tem muita profissão que pode ser substituída por um robô isso sim, mas o principal ponto do artigo nem é essas profissões que podem ser automatizadas, mas empregos criados para resolver problemas que não existiam sem eles.

    • As empresas poderiam ser muito mais lucrativas se não tivéssemos toda essa estrutura organizacional priorizando o bullshit Job.

  2. Te fala, é dificil mesmo ter empresa e ficar toda hora revisando para nao deixar que um Bullshit Job surja. Para voce ter ideia, quando eu entrei na empresa tinha um cara que carimbava o pedido com “Recebi em dinheiro – XX/XX/XXXX” e local para assinatura. Primeiro eu coloquei o sistema para imprimir o pedido quando fosse em dinheiro com esse “carimbo” já impresso – pronto menos 1 emprego bullshit. Hoje a empresa nao recebe mais em dinheiro, so boleto ou deposito, já da para imaginar quantos empregos foram afetados na cadeia toda. Mas uma coisa mudou, agora precisa identificar no extrato o deposito.

    Essa semana mesmo eu estava conversando com meu irmão que eles (Comercial) gastam muito tempo fazendo reuniões. As vezes 5hrs de reunião, que poderia ser resumida em 50min.

    Eu tenho um cargo de “Inteligencia Comercial” mas atualmente o cara gasta mais tempo conversando no comercial do que gerando analises. Se ele nao mudar de postura sobre a tarefa, vai ser outro bullshit job.

    Acredito que possam existir até empresas inteiras que nao tem sentido de existir, e com o avanço da IA a tendencia é acabarem. Eu fico com essa reflexão sobre a minha propria empresa. A “vantagem” do brasil ser atrasado é ver em outros paises como está o avanço e ja ir se preparando aqui, como nos casos que voce citou.

    • Ola J

      É fundamental os donos acompanharem todos os processos e a todo instante estarem preocupados em otimizar, alias automatizar o processo, ou talvez organizar melhor as coisas para que fiquem mais produtivas. É o que você comentou do cara que carimbava as notas. Vc conseguiu melhorar o processo, tornando mais produtiva e ainda cortando gastos.

      O lance das reunião, uma dica que eu passo é faça reuniões em pé, no máximo irão durar uns 30 minutos. Quando vc senta vc se acomoda e aí a coisa vai embora. Faça reuniões sempre em pé. Procure gravar vídeos e enviar aos funcionários. As vezes vc não precisa de uma reunião, as vezes vc quer só passar uma mensagem explicar um pouco como a coisa deve ser, faça um vídeo e mande pra eles no whats ou por email. O cara vai poder escutar depois com calma e vai absorver muito melhor a mensagem.

      • Gasto é igual unha! Tem que cortar sempre!
        Estou investindo em tecnologia para melhorar processos e otimizar gastos. Eu vi essa frase em algum lugar “Confio no que posso inspecionar, não no que posso esperar.”

        Boa ideia essa para reunioes e mensagens gravadas! Eu já reparei tambem que video conferencias e ate so por audio mesmo tendem a serem mais objetivas do que reunioes convencionais. Se passar de 1h pode contar que ninguem mais presta atenção.

  3. Vou discordar dessa sua afirmação: “Mas o departamento de relação públicas das universidades e empresas? Os lobistas? Consultores? Aquele gerente puxa saco do seu setor ? Se todos eles sumissem ninguém sentiria falta.”

    Existem empregos que afetam rapidamente o “mundo real”, como você mesmo citou os médicos e os encanadores. Se não tiver médico e você estiver doente, você morre no curto prazo. Se não tiver encanador e estourar o cano pia, vai alagar a casa inteira.

    Por outro lado, existem outros empregos que não possuem efeitos de curto prazo no mundo, pois buscam gerar efeitos de longo prazo. Se uma faculdade pública não tiver um departamento de relações públicas, no longo prazo a população que paga as contas da faculdade (através dos impostos) irá sentir que a faculdade é pouco importante e apoiará, por exemplo, sua privatização. Não quero entrar na questão específica desse exemplo (se privatizar ou não uma faculdade é positivo, etc), mas sim mostrar que o trabalho gerou, sim, um impacto no mundo real: o departamento de relações públicas da faculdade fez com que as pessoas passassem a dar mais importância à faculdade e, portanto, garantiu a continuidade da faculdade no orçamento público e a perpetuação da existência da faculdade.

    Um Consultor Empresarial é semelhante. Se amanhã não existir mais consultores, não acontecerá nenhum efeito prático no dia depois de amanhã. Porém, com o passar dos anos, as empresas que antes contratavam os consultores vão, provavelmente, perder muitas oportunidades de negócios que eram identificadas apenas por consultores de uma McKinsey ou Bain Company. Isso faz com que a empresa tenha um retorno pior, etc

    É muito simplista dividir os trabalhos em “trabalhos úteis” e “trabalhos inúteis”, sendo “inúteis” os trabalhos que não geram frutos imediatos/instantâneos. O remédio que o médico usa pra salvar uma vida é fruto da pesquisa de milhares de pesquisadores que passaram a vida estudando “coisa inútil” que nunca deu resultado…até um dia que alguém juntou todos os conhecimentos e desenvolveu o remédio.

    • ola L

      Mas os pesquisadores não estão enquadrados em bullshit jobs. Quem está definindo retorno de curto e longo prazo é vc. Isso não foi citado hora alguma no artigo. Se vc teve essa interpretação está totalmente errada do objetivo do artigo. Só pra vc entender melhor os 5 tipos de bullshit jobs citados pelo autor do livro

      em nenhum momento ele coloca essa questão de curto e longo prazo, isso vc ta tirando da sua cabeça a teoria não tem isso.

    • FII é muito estagnado, ele só vai lhe proteger da inflação nada mais. Os FIIs no brasil são diferente dos REITs nos USA, la os REITs crescem aqui o pessoal é muito passivo na gestão dos FIIs.

  4. Tem gente que pensa que as revoluções industriais da história foram assim : quarta feira de noite o cara que apertava parafusos foi dormir e quinta feira de manha ele foi demitido porque surgiu do nada uma máquina que fazia isso… enquanto na verdade foram processos que demoraram muitos anos… E estamos vivendo uma nova revolução, de TI, automoção, robótica e IA, muitos empregos serão substituídos a longo prazo, pelo menos nos países maia desenvolvidos e industriais como Japão, ainda vai demorar um pouco mais para chegar no Brasil e outros países desenvolvidos, porque essaa tecnologias são caras e esses trabalhadores são mais baratos, então quando robôs e IA se tornarem obsoletos chegará o fim.
    É preciso ter uma profissão que um robô não faça 100%, precise ser supervisionado ou o trabalho de um humano é essencial.
    Não necessariamente é preciso ter muita qualificação, marceneiros e cozinheiros, por exemplo, tem uma perícia e “arte” envolvida, então é só eles se adaptarem basicamente às tendencias, mesma coisa auxiliar de enfermagem, se ele souber um pouquinho de programaçã já consegue gerenciar/supervisionar via sistema smart hospitality, temperatura, iluminação, gerenciamento se dados, tudo remotamente.
    Mas tem muita profissão so tipo : atendente ou caixa, que não só um robo/IA faz igual como faz melhor, e até tem muitas profissões de nível superior, algumas até da área atuária, e principalmente da área de direito, tem um documentário muito interessante que diz que 90% dos formados em direito não vão ter emprego, porque só vai ter espaço para especialista já que uma IA consegue auxiliar para as coisas simples, e esse documentário é nos EUA (que lá direito é super controlado e prestigiado). Mas acho que aqui na Brasil, quando chegar com força essa coisa de IA, vai ser um chororô, os sindicatos vão berrar e num sei o que, fora os concursos e tal, então vai ter emprego mantido só para população ter emprego mesmo. Mas, enfim, quando uma classe não se adapta paga as consequencias. Sobre a greve dos caminhoneiros, o que aconteceu foi simples : aumentou o comercio via navio entre portos, ou seja, o mercado pune e é independente, não adianta colocar r parâmetros.. do tipo : nova lei : só trabalhar quando a umidade relativa do ar for de x a y, se for maior que y ou menor que x é preciso pagar o dobro por hora, vai ter 2 possiveis consequencias : o salário quando entre x e y de umidade vai diminuir para compensar o maior custo quando fora de x e y ou não vai ter emprego… quanto mais fizer palhaçada mais rápido vai vir a IA nos caminhões, e a história vai se repetir (que nem aconteceu quando os operários destroiram as máquinas) os caminhoneiros vao sair à caça aos caminhões autônomos, fechar as estradas e tudo mais…
    E nessa história toda ainda tem as famosas fábricas autônomas da Tesla (autônomo não significa que não tem gente, mas é que ela tem um “norte” próprio), com muito menos gente que uma fábrica tradicional.
    Mas é isso, agora é a hora de sair da zona de conforto, porque pode ser que amanhã não tome muitos empregos, mas depois de amanhã sim (na verdade isso é processo bem gradual e que tem umas que vão perecendo antes das outras).

    • ola D

      a coisa é tão bizarra no brasil que vc quer duas coisas que não existem em nenhum lugar do mundo só aí: frentista de posto de combustível e trocador de ônibus. Duas profissões que já eram par ter desaparecido a muitoooooo tempo, mas essa esquerda nefasta fez um baita lobby pra não acabar. Moral da história pagamos a mais na gasolina e passagem de ônibus pq temos que sustentar dois bullshit job.

      A galera jovem que está se preparando pra entrar no mercado de trabalho, tem que pensar muito bem em qual profissão vai se especializar pois tem grandes chances de se formar já numa profissão sepultada.

        • Fala II
          ta doido, vira essa boca pra lá kkkkkk

          tamo querendo acabar com salário mínimo e o pessoal tá querendo fazer essas doideira de salário universal, ainda bem que os suíços não concordaram com isso, pq imagina quanto não ficaria o preço do mc Donalds lá depois disto :)

          Boas intenções, quando guiadas por equívocos e ignorância, podem ter conseqüências indesejáveis. E não existe melhor exemplo para esse caso do que a legislação do salário mínimo.

          dá uma lida nesse post do mises, mas a frase acima resume bem a situação: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=92

      • Pela esquerda ainda estaríamos andando de carroça para não tirar o emprego do cara que concerta as rodas de carroças

        • o pessoal acha que a IA vai tirar empregos, sim, alguns vão acabar, mas irão surgir outros, veja pela própria industrialização depois acabou gerando muito mais empregos que antes.

          mas eles nunca olham um dia a frente do próprio umbigo

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