O Bullet Journal é um método analógico para gerenciar tarefas. Em um mundo completamente digital, com centenas de aplicativos disponíveis, pode parecer loucura controlar tudo com apenas um caderno, um pedaço de papel e uma caneta.
O tema de produtividade aparece com frequência aqui no blog. Embora nosso conteúdo seja majoritariamente sobre finanças, de vez em quando gosto de abordar assuntos complementares.
Produtividade é algo especialmente importante para mim. Precisamos ganhar mais dinheiro em menos tempo, e isso só é possível quando melhoramos nossa capacidade de executar tarefas de forma eficiente.
Temos bastante material valioso sobre o assunto por aqui. Recomendo fortemente que você dedique um tempo para explorar esse tema. Confira alguns posts interessantes que já publicamos:
- Falamos sobre o Zettelkasten: um método criado por um sociólogo alemão para fazer anotações de forma realmente inteligente.
- Efeito Zeigarnik: uma psicóloga russa explicou por que é fundamental transferir nossos compromissos para uma ferramenta externa e liberar espaço na mente.
- Evitar troca de contexto: entendemos por que mudar constantemente de tarefa destrói a produtividade no escritório. Como bônus, também abordamos mudanças de contexto em equipes.
O Bullet Journal, ou simplesmente BuJo para os mais íntimos, surgiu como uma solução elegante e minimalista para um problema muito real. Como organizar pensamentos, tarefas, compromissos e ideias sem se perder em aplicativos prontos que nunca se adaptam perfeitamente às nossas necessidades?
Meu interesse pelo Bullet Journal foi despertado depois que li o livro “The Revenge of the Analog”, de David Sax.

Volte para o Analógico
David Sax defende que o mundo atual está saturado de tecnologia. Isso gera um excesso de ruído mental constante.
Quando adotamos um aplicativo para gerenciar tarefas, ele logo começa a nos bombardear com notificações. Essas notificações são um dos maiores inimigos da produtividade real.
- Lembre-se do que já expliquei aqui: Evite Troca de Contexto.
Não estamos dizendo que alguém prefira enviar um fax em vez de um e-mail. Mas pense nos e-mails em si. Deletamos dezenas deles por dia sem nem abrir. Agora compare com uma carta física deixada sobre a mesa: quase sempre abrimos o envelope.
É exatamente por isso que empresas como Google e Meta passaram a distribuir comunicados importantes em formato impresso para seus funcionários, em vez de apenas enviá-los por e-mail.
Ao desligar o digital e retornar ao analógico, recuperamos o foco de forma surpreendente.
O problema dos apps de tarefas
Quando você escolhe um aplicativo de tarefas como Trello, Notion, Todoist, Google Calendar, Google Tasks ou qualquer outro, abre uma porta gigante para distrações exatamente no momento em que deveria estar organizando a vida.
Quantas vezes você pegou o celular só para adicionar uma tarefa nova e, de repente, viu a notificação do cliente, da namorada ou do jogo do seu time? Isso acontece porque levar suas tarefas para o mundo digital é como entregar a chave da sua atenção a um diabinho que vive tentando você.
Hoje estamos exaustos de telas e da dopamina barata das notificações constantes. Por isso, adotar o BuJo se transformou em um ato de inteligência e autocuidado. É uma forma elegante de escapar do efeito manada digital.
- Já falamos sobre isso no artigo do Zettelkasten, onde destacamos a importância de largar o teclado e voltar a escrever à mão para desenvolver ideias de verdade: Zettelkasten – Como tomar notas inteligentes
Alguns benefícios comprovados da escrita à mão:
- Desacelera o cérebro de forma saudável.
- Reduz significativamente a ansiedade.
- Torna você mais produtivo no longo prazo.
O que precisa para usar um Bullet Journal
O Bullet Journal é simplesmente um caderno com páginas pontilhadas (dot grid). Esses pontos discretos servem de guia invisível e permitem que você crie o layout exatamente como precisar.
Para começar a usar o BuJo, você precisa de apenas três itens:
- Um caderno Bullet Journal (ou qualquer caderno pontilhado de qualidade).
- Uma boa caneta.
- Régua (opcional, mas ajuda nos primeiros desenhos).
Nós usamos o BuJo basicamente para quatro funções principais:
- Planejar o futuro – compromissos, metas e datas importantes.
- Organizar o presente – tarefas do dia, eventos e prioridades imediatas.
- Registrar o passado – o que você fez, sentiu e aprendeu.
- Rastrear o que importa – hábitos, humor, sono, finanças, livros lidos e tudo mais que desejar acompanhar.
Algumas regras para usar o BuJo como lista de tarefas
A imagem abaixo mostra as principais convenções (ou “regras”) que usamos no Bullet Journal.
É bem simples:
- Tarefa: use um ponto (•).
- Tarefa concluída: transforme o ponto em um X (×) cruzando-o.
- Tarefa migrada: use o sinal > para indicar que ela foi movida para outra página ou seção.
Esses símbolos são o coração do sistema. Eles permitem que você veja de relance o que está pendente, concluído ou adiado, tudo com o mínimo de esforço.

- Cancelar uma tarefa: faça um traço horizontal sobre o ponto e também sobre a descrição da tarefa.
- Notas: use um traço simples (–). Elas servem para observações, ideias ou qualquer informação relevante sobre um projeto.
- Eventos: marque com um círculo (○). São compromissos, reuniões ou datas específicas.
- Prioridade alta: adiciono um ponto de exclamação (!) logo no início da linha para destacar imediatamente o que é mais urgente.
O grande diferencial do Bullet Journal é que ele não possui layout fixo. Você cria tudo do zero, página por página, de acordo com o que faz sentido para a sua vida. Apesar de existirem convenções básicas como essas que mencionei, o sistema é 100% personalizável e se adapta perfeitamente a qualquer objetivo ou estilo pessoal.
Livre de assinaturas e sistemas proprietários
Já expliquei aqui a importância de adotarmos um sistema em RAW, para evitar que nossas informações mais valiosas fiquem presas em plataformas proprietárias. Quando você armazena suas tarefas em um aplicativo específico, acaba refém de uma única empresa.
- Ainda pretendo aprofundar esse tema aqui no blog, falando sobre a relevância de um RAW File System. Embora eu tenha tocado no assunto de forma superficial neste artigo: Evernote: 2 erros que as pessoas cometem.
Pode acontecer de a empresa falir ou descontinuar o produto. Outra possibilidade é que ela altere a política comercial e imponha um preço absurdo para o serviço que você usa. Sem contar que eles podem simplesmente lançar uma atualização malfeita, com uma versão tão ruim que você nem vai querer continuar.
Esses problemas são extremamente comuns. O artigo que mencionei acima traz vários exemplos reais.
O Bullet Journal, por outro lado, oferece liberdades fundamentais:
- Sem refém de uma empresa – você controla tudo.
- Sem planos premium para desbloquear recursos básicos que vemos em tantos apps.
- Sem atualizações forçadas ou mudanças de layout sem o seu consentimento.
- Sem pedidos de permissões para acessar seus dados pessoais.
Minimalista x Artístico
Quando você começar a explorar o universo do Bullet Journal, vai perceber que existem basicamente dois estilos principais:
- Minimalista: são os mais simples e limpos. Você monta tudo com apenas uma caneta e, no máximo, uma régua. Muitos nem precisam dela. O foco está na funcionalidade pura, sem enfeites desnecessários.
- Artístico: mais elaborados, com desenhos, cores, lettering e elementos visuais criativos.

Uma pergunta frequente é: qual dos dois é o melhor? Não existe “o melhor”. Existe o que combina com o seu propósito.
Se o objetivo for praticidade e eficiência máxima, vá de BuJo minimalista. Esse é o meu estilo pessoal. Preciso que seja rápido de montar, direto ao ponto e fácil de consultar no dia a dia.
Por outro lado, há quem use o Bullet Journal como uma forma de terapia e relaxamento. Nesse caso, o estilo artístico faz todo o sentido. Essas pessoas geralmente reservam mais tempo para caprichar nos desenhos, nas cores e na estética geral.
Erros comuns
Acho que o principal erro ao iniciar no Bullet Journal é tentar começar com uma abordagem artística. Isso consome muito tempo e gera frustração logo no início. A maioria das pessoas desiste exatamente por causa dessa expectativa irreal de perfeição.
Outros erros comuns:
- Montar páginas demais no começo. Não tente criar o calendário do ano inteiro de uma vez. Construa apenas o mês atual. Quando o mês virar, você monta o próximo. É mais leve e mais realista.
- Não migrar tarefas pendentes. Muita gente decide “usar o BuJo só para tarefas novas” e deixa as antigas no aplicativo antigo. Resultado? Você continua preso ao app. Reserve uma ou duas horas, transfira tudo que ainda está pendente para o caderno e comece de verdade com o BuJo.
- Gastar muito dinheiro logo de cara. Na internet você vê gente usando cadernos caríssimos, conjuntos de canetas importadas e réguas especiais. Não caia nessa armadilha. Comece com um caderno pontilhado simples e uma caneta que você já tem. Só invista mais se o método realmente fizer sentido na sua vida depois de alguns meses.
- Ficar preso ao primeiro layout que criou. Eu mesmo já mudei o meu BuJo dezenas de vezes. A cada mês (ou até a cada semana) você pode testar um novo formato, um tracker diferente ou um fluxo novo. Essa flexibilidade é uma das maiores vantagens do sistema. Não se engessar no que começou é essencial para ele evoluir com você.
Jeito VdD de usar o Bullet Journal
A flexibilidade do Bullet Journal é realmente impressionante. Ao longo dos anos, já testei dezenas de formas diferentes de usá-lo.
Teve uma fase em que eu tentava registrar absolutamente todas as micro-tarefas. Funcionava muito bem na época, porque eu passava a maior parte do dia na mesma mesa. Especialmente durante o período de home office, o BuJo era perfeito: eu abria o caderno, via tudo de uma vez e conseguia manter o controle total sem nenhuma distração digital.

Mais tarde, precisei me deslocar com frequência entre setores e reuniões. Carregar o caderno o tempo todo ficou impraticável. Foi quando mudei para um modelo mais focado em registro diário e análise de desempenho.
Todo mês monto uma tabela simples como esta:
Nela controlo meus hábitos principais e registro a tarefa mais importante do dia.
Acompanhar hábitos no papel é poderoso. O BuJo se encaixa perfeitamente nisso. Os hábitos que considero essenciais são:
- Meu humor
- Horas de sono
- Treino físico (workout)
- Tempo de leitura da Bíblia e oração
- Momento de qualidade com minha esposa
- Natação
- Leitura do livro de cabeceira
Quando cumpro o hábito, marco com uma bolinha preenchida na coluna do dia. O grande diferencial é ter tudo concentrado em uma única página: hábitos + foco diário. Basta olhar para saber imediatamente se o dia foi produtivo ou não.
O Bullet Journal também é uma ferramenta incrível para criar um registro histórico da sua vida. Se você ainda não mantém um diário diário, está seriamente atrasado e continua preso na roda dos ratos. O primeiro passo para identificar gargalos e ladrões de produtividade é parar, sentar e revisar o que realmente fez no dia. Isso deveria ser a primeira atividade da sua manhã.
- Veja sobre: Importância de um diário
Antigamente eu escrevia uma página inteira, misturando aspectos pessoais e profissionais. Hoje separei: o diário pessoal vai para outro caderno (podemos falar disso em outro post) e o diário de trabalho permanece no BuJo.
Aqui o objetivo é síntese. Escrevo apenas uma ou duas frases curtas, focando nas conquistas mais relevantes do dia. Evito registrar rotinas óbvias. Se o espaço ficar quase vazio, é sinal claro de que o dia não foi produtivo. Nesses casos, anoto o que drenou meu tempo e energia. Essa honestidade rápida é o que transforma o simples registro em uma ferramenta poderosa de melhoria contínua.
Vídeo
Takeaway
Geralmente começamos o Bullet Journal apenas querendo organizar melhor o dia a dia. Com o tempo, porém, percebemos que ele entrega efeitos colaterais extraordinários:
- Menos ansiedade e mais clareza mental. Escrever à mão ativa áreas do cérebro que a digitação simplesmente não alcança. Transferir as tarefas da cabeça para o papel alivia o peso imediato. As ideias fluem mais organizadas quando a velocidade é ditada pela caneta, não pelo teclado.
- Redução brutal do tempo de tela. Você deixa de abrir dezenas de abas e aplicativos só para “ver o que tem que fazer”. Tudo fica em um único lugar, offline e sem notificações invadindo.
- Autoconhecimento profundo. Após alguns meses, ao olhar os trackers, os padrões saltam aos olhos como nenhum algoritmo conseguiria mostrar. “Eu durmo mal quando tomo café depois das 16h” ou “Meu humor despenca quando passo mais de duas horas no Instagram”.
- Sensação real de controle. Em um mundo caótico, ter um espaço onde você decide o que é prioridade, o que pode ser riscado ou migrado é quase terapêutico.
- Criatividade destravada. Muitos usuários relatam que voltaram a desenhar, escrever poesia ou gerar ideias de projetos novos exatamente porque o BuJo devolve o tempo e o silêncio mental que os apps roubavam.
- Orgulho tangível. Ver o caderno se enchendo mês após mês, com sua letra, seus rabiscos e suas conquistas reais, gera uma satisfação que nenhuma notificação de “parabéns, você completou 7 tarefas” consegue igualar.
No fim das contas, o Bullet Journal não vai te ajudar a fazer 347 coisas por dia. Ele vai te ajudar a fazer o que realmente importa.
Em 2025, isso vale mais do que qualquer plano premium de produtividade.
Você não precisa de mais um aplicativo. Você precisa de um sistema que seja 100% seu.
Pegue o caderno que já está aí na sua gaveta e comece hoje.

























