Guia para montar sua carteira e quais ativos comprar no começo

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Todos os anos, inúmeros investidores iniciam sua jornada na bolsa de valores. Muitos, no entanto, começam pelo caminho errado, o que pode levar a erros e frustrações. Optar por uma trajetória inadequada muitas vezes resulta em perda de tempo, algo que, como diz o ditado, é dinheiro.

Acredito que tempo é ainda mais valioso que dinheiro, pois é um recurso irrecuperável. Por isso, é essencial não desperdiçá-lo em nenhuma área de nossas vidas, especialmente em investimentos.

Este artigo é voltado, principalmente, para o investidor que deseja construir uma carteira de ações focada na aposentadoria. Reconhecemos que cada pessoa possui um perfil de investimento único, com objetivos e necessidades distintos. Abaixo, destacamos alguns dos principais:

  1. Investidor focado em viver de dividendos: Este é o perfil que busca acumular uma quantia significativa para viver da renda gerada por dividendos. É nosso caso abordado no blog. Por isso chamamos Viver de Dividendos, que reflete exatamente essa estratégia de construir uma carteira voltada para renda passiva.
  2. Investidor com objetivos de médio a longo prazo: Esse investidor aplica seu dinheiro com um propósito específico no futuro, mas não imediato. Por exemplo, estou poupando para comprar um apartamento em Miami, como explorado na série Trade de Valor – Miami. Para esses objetivos, é recomendável investir em ações de crescimento que não distribuem dividendos, utilizando estratégias como o Trade de Valor.
  3. Investidor de curto prazo: Esse perfil busca sustento imediato na bolsa, muitas vezes com a intenção de abandonar a profissão atual. Para isso, estratégias de análise gráfica são comuns, focadas em operações de curto ou curtíssimo prazo. Embora existam investidores com esse objetivo, é raro encontrar casos de sucesso consistentes.
  4. Investidor com capital pontual: Esse tipo de investidor entra na bolsa após receber uma quantia significativa, como uma herança, rescisão trabalhista, processo judicial ou até ganhos em jogos de azar. Ele não busca viver da renda, mas quer evitar a baixa rentabilidade de opções como a poupança. Muitos desses investidores permanecem na bolsa por pouco tempo e, frequentemente, saem com menos capital do que entraram.

Embora tenhamos listado alguns perfis, há muitos outros. O ponto central é que a bolsa de valores não é ideal para todos. Como observamos, certos objetivos se alinham bem com o mercado de ações, enquanto outros simplesmente não funcionam, pois a química entre o perfil do investidor e a estratégia escolhida é essencial para o sucesso.

Aquele investidor que quer Viver de Dividendos

Este artigo é dedicado ao primeiro perfil: o investidor que deseja se aposentar utilizando a bolsa de valores ou, pelo menos, complementar sua aposentadoria com os rendimentos obtidos.

Para esse perfil, podemos considerar um investidor que planeja permanecer no mercado por, no mínimo, 10 a 15 anos. Adotando uma perspectiva mais cautelosa, vamos assumir que esse investidor precisará de pelo menos 15 anos para alcançar sua independência financeira.

Caso você não saiba o que é Independência Financeira (IF), trata-se do momento em que sua renda passiva, proveniente de investimentos, é suficiente para cobrir todas as suas despesas. É aquele ponto em que você conquista a liberdade de não precisar mais acordar todos os dias para trabalhar, pois sabe que sua renda passiva garantirá a cobertura de todos os seus gastos.

Esse investidor precisará se dedicar a três etapas para construir sua estratégia de forma sólida. Dividi essas etapas em três fases: júnior, pleno e sênior. Esses termos foram inspirados na área de Tecnologia da Informação, onde programadores são classificados nessas categorias.

É importante destacar que esses níveis não estão relacionados ao conhecimento técnico, mas sim ao momento da trajetória do investidor em direção à Independência Financeira.

Essas fases devem ser alinhadas à sua estratégia e às perspectivas de retorno que você estabeleceu.

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Carteira nível júnior

Esse período abrange os primeiros 7 anos do investidor na bolsa. É o momento mais crítico da jornada, pois ele ainda demora a visualizar os resultados dos investimentos e, justamente nessa fase, deve se dedicar à alocação de ativos que geram retornos mais expressivos no longo prazo.

Ao falarmos de um investidor júnior, significa que ele deve se concentrar na compra de ações de crescimento de dividendos na bolsa. Nessa categoria, destacam-se aquelas com alto crescimento de dividendos.

As características das ações de crescimento de dividendos devem incluir:

  • Baixo yield: Essas ações devem apresentar um dividend yield inferior a 2%, pelo menos.
  • Alto crescimento de dividendos: Analise o histórico de crescimento dos dividendos nos últimos 3, 5 e 10 anos. O ideal é que o crescimento nos últimos 3 anos seja superior ao dos períodos de 5 e 10 anos. Caso isso não seja possível, priorize ativos com uma alta taxa de crescimento de dividendos consistente.
  • Largo fosso competitivo: Essas ações precisam de uma vantagem competitiva sólida, pois você as manterá em sua carteira por um longo período. Elas devem ser as que permanecerão por mais tempo, sendo essencial que ofereçam proteção contra concorrentes e adversidades do mercado.
  • Retorno a longo prazo: Essas ações geram dividendos e yield, mas o retorno significativo demora, devido ao baixo yield inicial. O maior benefício virá próximo à transição para a próxima fase. O principal retorno dessas ações está no ganho de capital, já que o mercado valoriza empresas com crescimento rápido de dividendos, resultando em uma alta valorização da cotação.

É importante ter cuidado, pois esses ativos apresentam maior risco no longo prazo. Por isso, é recomendável adquiri-los no início da jornada, para reduzir o risco e maximizar os ganhos ao longo do tempo.

Invista nesses ativos no início da construção da sua carteira e aporte neles anualmente, mesmo com o yield baixo. Isso não é o foco, pois o verdadeiro retorno dessas ações se manifestará em alguns anos.

Um exemplo prático é a ação da Williams-Sonoma (WSM):

WSM
Yield 1,35%
Cresc DPA 3 anos 18,69%
Yield on Cost 24 anos 69,48%

Carteira nível pleno

Essa é a fase em que você está no meio da sua jornada rumo à Independência Financeira (IF), entre 8 e 12 anos de investimentos na bolsa. Nesse momento, você já começa a receber rendimentos das ações de forte crescimento de dividendos adquiridas anteriormente. Agora, é hora de buscar ativos que representem um meio-termo em termos de retorno e crescimento.

Nessa etapa, você deve procurar ativos que ofereçam um bom retorno de yield, mas que, somado ao crescimento dos dividendos, alcancem o yield on cost desejado.

Nessa fase, priorize ações de empresas já estabelecidas no mercado. Geralmente, esses ativos estão classificados como Contender na lista de empresas de crescimento de dividendos.

As características dos ativos nessa fase incluem:

  • Yield entre 2% e 5%: O dividend yield deve ser superior a 2%, mas não ultrapassar 5%.
  • Crescimento de dividendos alinhado ao yield on cost: O crescimento dos dividendos, combinado ao yield inicial, deve resultar em um yield on cost de, pelo menos, 12% em até 24 anos.
  • Valorização e retorno combinado: Esses ativos oferecem uma valorização de capital razoável, com o retorno proveniente da combinação entre o yield e o ganho de capital. Para entender melhor, confira: Como calcular o retorno total de uma ação na bolsa.

Na nossa área de membros, frequentemente destaco esses ativos, já que a maioria das nossas escolhas segue essa estratégia.

Um exemplo de ação para essa fase é a Snap-on (SNA):

SNA
Yield 2,49%
Cresc DPA 3 anos 14,65%
Yield on Cost 24 anos 57,78%

Carteira nível sênior

Nesse estágio, o investidor está muito próximo da Independência Financeira (IF), com mais de 12 anos de experiência na bolsa. Ele já possui uma renda razoável, acumulada ao longo de mais de uma década com ações de alto crescimento de dividendos e ações que combinam bom retorno e crescimento. Após passar pelas fases júnior e pleno, ele agora é um investidor sênior. Esse investidor enfrentou pelo menos um ou dois bear markets e sabe como lidar com essas situações quando voltarem a ocorrer.

Nessa fase, o foco dos ativos muda. Em vez de buscar ações de crescimento de dividendos, o investidor deve priorizar ativos de alto yield que mantenham a consistência na distribuição de dividendos. O objetivo não é mais o crescimento do ativo, mas garantir que os dividendos não sejam cortados. As características desejadas incluem:

  • Alto yield: As ações devem oferecer, no mínimo, 6% de dividend yield.
  • Crescimento de dividendos opcional: O aumento dos dividendos não é prioritário, mas a manutenção é essencial.
  • Sem cortes de dividendos: É fundamental evitar ativos que reduzam os dividendos, pois ninguém quer ser surpreendido na aposentadoria com cortes que obriguem a voltar ao trabalho.
  • Retorno imediato via yield: Esses ativos geram a maior parte do retorno por meio do yield. Suas cotações podem permanecer estáveis ou até cair com o tempo, mas o foco está no yield entregue, não na valorização do preço.

Esses ativos impulsionam significativamente a carteira e o retorno de dividendos. No entanto, é importante ter cautela: embora seja tentador investir neles no início da jornada, isso pode comprometer o efeito bola de neve, reduzindo o potencial de retorno a longo prazo. Esses ativos devem ser incorporados apenas na reta final da construção da carteira. Algumas classes de ativos sugeridas incluem:

  • Ações de alto yield sem cortes de dividendos: Empresas que oferecem rendimentos elevados e consistentes.
  • Utility Stocks: Ações de setores de utilidade pública, como energia e água, que geralmente apresentam yields atrativos, mas com crescimento de dividendos limitado.
  • Bancos: Principalmente bancos menores, que oferecem altos yields e são interessantes para o início dessa fase de investidor sênior.
  • Commodities: Ações de petróleo, gás e mineradoras, que são cíclicas. É crucial escolher o momento certo para comprar, pois, assim como os bancos, podem apresentar cortes de dividendos.
  • BDCs (Business Development Companies): Já abordamos as BDCs no blog; confira: Business Development Company. Essas empresas são excelentes para quem busca altos yields sem cortes de dividendos. Como os bancos, são cíclicas e dependem do momento econômico, oferecendo dividendos especiais em fases de prosperidade e dividendos regulares em períodos desafiadores.

No meu blog, compartilhei minha experiência ao longo de mais de uma década, passando por todas essas etapas. Por isso, cuidado para não tentar replicar a estratégia atual, voltada para investidores sêniores, se você está na fase júnior da sua carteira. Nossa área de membros oferece um ponto de partida sólido para orientar sua jornada.

Um exemplo de ação para essa fase é a Golub Capital BDC (GBDC):

GBDC
Yield 10,99%
Cresc DPA 3 anos 9,14%
Yield on Cost 24 anos 82,15%

Medindo a carteira pelo % da IF

Nem sempre o tempo de aposentadoria é a melhor métrica para todos, pois cada investidor possui um perfil único de gastos e receitas, diferente do abordado no blog. Uma alternativa mais eficaz é medir o progresso em direção à Independência Financeira (IF) com base na proporção das despesas cobertas pelos dividendos. As fases podem ser definidas assim:

  • Júnior: Até cerca de 35% da sua IF, ou seja, quando os dividendos cobrem 35% das suas despesas.
  • Pleno: Até cerca de 80% da sua IF, momento em que os dividendos já financiam a maior parte dos seus gastos.
  • Sênior: Acima de 80% da sua IF, indicando que você está muito próximo ou já alcançou a independência financeira.

Essa abordagem facilita a medição, pois basta calcular a porcentagem das suas despesas coberta pelos dividendos para determinar em qual estágio você se encontra.

Takeaway

Para alcançar a Independência Financeira (IF) com ações, alinhe sua estratégia às fases júnior (0-7 anos, até 35% da IF), pleno (8-12 anos, até 80% da IF) e sênior (acima de 12 anos, >80% da IF).

Cada etapa exige ativos específicos: na fase júnior, invista em ações de crescimento de dividendos (yield <2%, alto crescimento, ex.: Williams-Sonoma – WSM); na pleno, busque empresas estabelecidas (yield 2-5%, yield on cost de 12% em 24 anos, ex.: Snap-on – SNA); na sênior, priorize ativos de alto yield (>6%, sem cortes de dividendos, ex.: Golub Capital BDC – GBDC).

Evite aplicar estratégias de fases avançadas no início, pois isso pode comprometer o efeito bola de neve.

Meça seu progresso pela proporção das despesas cobertas pelos dividendos e ajuste sua carteira conforme o estágio.

Saiba mais: Estratégia 12 por 24, Cobrir despesas com dividendos.

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