Penso que se pudéssemos resumir esse post em uma frase seria essa: O caminho do inferno está cheio de boas intenções. Gosto muito de ditos populares porque eles resumem séculos de conhecimento em frases curtas e simples.
Às vezes sinto que minha independência financeira possa estar indo para esse caminho.
Sigo o caminho da poupança e investimento há mais de oito anos, quase no piloto automático, muitas vezes nem lembro do porque coloquei meu GPS por esse caminho.
Digo para mim mesmo que realizo isso para tornar-me financeiramente seguro e independente. Para poder ter uma vida boa ou até luxuosa depois na aposentadoria, mas ao longo dos anos acredito cada vez mais que a independência financeira não é um objetivo a ser alcançado até uma determinada data, mas um processo.
A felicidade não está no destino, mas sim na caminhada.
Esse é um dos meus inúmeros bordões aqui no blog, sim, realmente acredito nisso a cada dia.
Claro, estar endividado, sentir-se preso na rotina de 8 às 18h, não poder aproveitar o seu tempo livre do jeito que você quer, são cobras horríveis para ter que se desviar.
É ilusão acreditar que conseguirá desviar-se de todas as cobras venenosas na sua vida, alcançando a independência financeira, muito menos a aposentadoria antecipada.
Essas cobras ainda estarão lá quando você chegar no seu número mágico. Talvez não sejam tão numerosas, mas o medo de encontrar apenas uma pode ser o suficiente para minar toda a sensação supostamente exalada de não estar em dívida com mais ninguém.
Cobra Effect
Já que estamos falando em cobras, tem uma história ótima do economista alemão 🇩🇪 Horst Siebert, sobre um incidente na Índia durante o domínio colonial britânico.
O governo britânico estava com um problema com excesso de cobras venenosas em Deli na Índia. Do ponto de vista preventivo da saúde pública, o Raj britânico, decidiu pagar uma recompensa por cada cobra morta.
Era de se esperar, a estratégia deu muito certo, reduzindo drasticamente a população de cobras venenosas.
Claro, não demorou muito para que algumas pessoas empreendedoras criassem cobras para a renda. Quando os governantes coloniais ficaram sabendo da engenhosidade da populaça local, eles prontamente descartaram a recompensa, deixando os criadores de cobras com poços de cobras inúteis.
Não conseguindo monetizar mais seu investimento, os moradores locais não viram outro recurso a não ser liberar as cobras, aumentando assim a população de cobras selvagens além de qualquer nível visto anteriormente.
Podemos tirar lições sobre essa história, acredito que a primeira é que o governo vai sempre piorar sua vida em qualquer medida que ele fizer 🥲
Lição por trás do efeito cobra
O incidente acima foi conhecido como “Cobra Effect”, sendo um fenômeno que ocorre quando uma tentativa de solução para um problema realmente piora o problema.
Nós, humanos, tendemos a formar modelos mentais da maneira como causa e efeito estão relacionados.
Cobra Effect nas finanças
- Quero a Independência financeira porque não gosto do meu trabalho.
- Parece uma obrigação ter que ir trabalhar todo dia.
- O que eu faço não agrega valor a sociedade.
- Minhas habilidades não são valorizadas.
- Não me sinto desafiado com que faço hoje em dia.
Esses são alguns dos pensamentos de muitos que já passaram por aqui.
Muita gente agarra a estratégia da Independência Financeira para se livrar do seu trabalho, que eles pensam ser um fardo.
Usam a Independência Financeira como uma rota de fuga, às vezes agem assim até inconscientemente.
O pessoal encara a Independência Financeira como uma linha de chegada feita de arco-íris com um unicórnio levando eles para o paraíso. A aposentadoria antecipada é o final feliz que resolverá todos os seus problemas e irá lhe tirar do tédio que é seu trabalho.
Pensar assim nada mais é que um Cobra Effect.
Aquela solução que vai sair pior que o problema original.
O cara acha-se infeliz devido ao trabalho, daí ele racionalmente pensa que terminar de trabalhar a felicidade volta. O que ocorre nesse caso, que ele entra numa espiral de infelicidade ainda maior. Pois, agora ele irá viver uma rotina de não fazer nada e isso amigo pode ser atraente nos primeiros dias, mas torna-se um fardo ainda maior com o avanço dos meses e anos.
Isso nos oferece a capacidade de confronto mental para não olhar para a maneira como estamos vivendo nossas vidas.
Paramos de elaborar perguntas sobre o que nos faz felizes. Esquecemos quais atividades nos trazem mais alegria. Não nos cercamos mais ativamente de pessoas que realmente valorizamos. Paramos de tentar. Porque assim que atingirmos 25 vezes o nosso nível atual de gastos, estamos prontos para a vida e esses problemas se resolverão sozinhos.
Finalmente poderemos nos concentrar no que realmente importa para nós.
A questão é que dinheiro ainda não compra felicidade. Não vai agora e também não acontecerá no futuro.
Dinheiro não compra felicidade
Como esse raciocínio vem? Isso acontece quando conectamos casualmente nosso estilo de vida e problemas à quantidade de dinheiro que temos. Dessa forma, introduzimos uma variável de confusão nesse pensamento.
Quando você está com fome ou sede, você resolve isso comendo ou bebendo. Tem uma correlação bem direta entre a fome e comida.
No exemplo de não gostar do trabalho, não funciona da mesma forma, você não resolverá seu problema sendo financeiramente livre.
A solução está na pergunta acima: o que e quem te faz feliz?
Substituímos a pergunta difícil “o que preciso para ser feliz?” por uma pergunta fácil “como posso me livrar deste trabalho?”. Kahneman e Tversky chamaram esse tipo de “heurística” de resolução de problemas: atalhos mentais para encontrar uma solução rápida para um problema complexo.
A verdade é que a liberdade financeira é apenas um dos aspectos que podem nos fazer felizes.
Isso nos permite fazer mais do que já amamos com quem amamos, mas nunca conseguirá definir essas duas para nós.
Esperar que as riquezas alcancem nossas despesas para começar a ser verdadeiramente feliz é completamente irracional. Por que não começar a viver uma vida feliz agora? Os dois não são mutuamente exclusivos.
Perguntas difíceis
Então, qual é o objetivo da independência financeira?
Obviamente não existe a resposta correta para todos. Isso cada um tem que refletir e ponderar. Cada um tem seus objetivos no final.
Penso que para isso você precisará de responder essas perguntas bem difíceis:
- O que eu realmente gosto de fazer?
- O que me faz sentir no topo do mundo?
- Quando perco a noção do tempo?
- Quando me sinto a melhor versão de mim mesmo?
- O que eu realizaria na vida se tivesse a certeza de que não poderia falhar?
- Com quem eu estaria realizando essas coisas? Para quem?
- O que me assusta e por quê? Como faço para superar esses medos?
- Com quem eu ando? Como posso estar perto deles ou de mais pessoas como eles?
São perguntas que você não conseguirá responder em um dia, talvez nem em anos. Depois de um tempo remoendo elas, começa a surgir alguns tópicos e padrões comuns. Você achará mais fácil nomear o que deve fazer na vida e com quem deve fazê-lo para se sentir feliz.
Onde entra a Independência Financeira?
É uma ferramenta poderosa que você pode aproveitar, mas nada mais é do que uma ferramenta. Não pense que você precisa alcançá-la primeiro antes de ser feliz, porque você não encontrará nada na linha de chegada que valha o seu tempo, exceto as perguntas difíceis.
Sempre haverá cobras pelo caminho para ter que desviar, não adianta criar uma caça de recompensas para erradicar. Aproveite sua vida ao máximo, seja grato por cada momento incrível que você desfruta e trate a independência financeira como um processo de fundo que está funcionando para você, diligente e silenciosamente, tornando cada dia melhor do que o anterior.
Esse artigo é a razão pela qual mantenho esse blog. Poder compartilhar um pouco de toda a minha trajetória com vocês, fico muito grato por ter você como leitor 🤩