Neste artigo, apresentamos as técnicas e os principais indicadores que utilizamos para avaliar empresas, destacando a importância de uma análise bem fundamentada para o sucesso no mercado de ações. Saber qual a empresa comprar talvez seja um dos maiores desafios do pequeno investidor. É a seleção de empresa feita de forma incorreta que leva o investidor a perder dinheiro na bolsa. Vamos mostrar algumas técnicas para ajuda-lo nessa etapa.
Na análise de empresa temos duas vias principais:
- Análise técnica: destinada para quem faz operações de curto prazo na bolsa. Aqui não se analisa a empresa em sí, mas sim o seus movimentos de preços. Essa análise é mais utilizada para quem faz Trader então não iremos abordar isso aqui, pois não é uma análise que funciona para quem investe no longo e médio prazo.
- Análise fundamentalista: essa análise é destinada a entender e estudar os fundamentos de uma ação. Isso é o ideal a longo prazo, então é esse tipo de análise que usamos aqui no blog. Quer entender o que análise fundamentalista? Dê uma olhada nesse artigo: O que é Análise fundamentalista?
Toda empresa publica seus balanços financeiros, então precisamos debruçar sobre eles para entender se essa empresa é boa ou ruim para se investir. O problema que são dezenas ou até centenas de indicadores. Aqui selecionei os indicadores que mais utilizo na análise das minhas empresas.
Criei o meu jeito de investir. Ainda que não encaixe 100% no seu perfil, talvez possa lhe oferecer uma base. Tenho uma série de passos que realizo quando vou analisar uma empresa. Você precisa entender que não adianta criar uma fórmula mágica e seguir recomendações como se fosse uma receita de bolo.
Nós podemos dividir essa análise fundamentalista em duas etapas:
- Análise qualitativa
- Análise quantitativa
Peter Lynch já dizia que analisar empresa é mais arte do que ciência. Lynch, um dos mais bem-sucedidos gestores de fundos de todos os tempos, enfatizava a importância de entender profundamente o negócio, observar tendências e utilizar o bom senso na análise de empresas. Ele acreditava que uma análise qualitativa, que envolve intuição e compreensão dos detalhes específicos de cada empresa, é crucial para o sucesso no investimento.
Apesar da análise qualitativa ser a mais importante, não obstante a análise quantitativa é a mais popular. Por isso vamos começar com a análise quantitativa, mas recomendo dedicar maior atenção nas suas análises qualitativas.
Talvez aí seja um dos motivos de maior fracasso de muitos investidores, dedicarem muito tempo em entender os números e não o causa desses números.
Vamos apresentar os indicadores, depois em outro post, iremos mostrar quais os valores chaves olhar em cada um desses indicadores.
Parte I – Analise quantitativa
Primeira passo é olhar os números da uma empresa, o que chamamos de: fundamentos. Normalmente uso uma base de pelo menos 10 anos como período chave. Algumas empresas possuem ciclos de negócios um pouco longo e essa é uma base suficiente para suavizar esses ciclos ao longo do tempo.
Receita e lucros
Esses são os dois pilares para se olhar ao investir. A receita é onde tudo começa e os lucros onde tudo termina. Muitas pessoas acabam dedicando muito esforço em tentar entender o preço de uma ação, se ela vai subir ou cair na bolsa. Isso não vai importar a longo prazo. O que move o preço de um ativo na bolsa no longo prazo é sua capacidade de gerar lucros.
O ponto é que o Lucro provem da receita. Olhe sempre para a causa e não para o efeito. Aqui não temos muito mistério, Receita é tudo que a empresa conseguiu arrecadar de dinheiro proveniente de suas operações. Lucro é o resultado final depois que a empresa pagou todas as suas despesas.
Isso é meio que obvio. Imagina que você virá sócio de uma padaria, essa padaria não te entrega nem 1 centavo de lucro. Você ficaria sócio dela? Não faz sentido. Agora imagina que essa padaria começasse a te dar prejuízo. Logo você iria querer vender por preço abaixo que comprou. Uma empresa na bolsa é bem semelhante.
Se a empresa não está dando lucro, tiro ela do meu radar, tiro ela da minha carteira. Pode ocorrer de em algum trimestre ou talvez algum ano especifico tenha acontecido algo não recorrente que fez com que ela ficasse no vermelho. Aí entra a parte da arte na análise para entender se isso é algo que irá se repetir com frequência. Em resumo, escolha sempre empresas com receita e lucro positivos.
Dividendos
Os dividendos são a parte do lucro que a empresa distribuiu para você. Dividendos são importantes para quem deseja investir para construir uma carteira de ações no longo prazo. Existem vários tipos de empresas que distribuem dividendos. As empresas de dividendos que gosto de investir são as de crescimento de dividendos: empresas de crescimento de dividendos.
Nem todo investidor usa os dividendos tão ativamente em suas análises. Temos vários materiais aqui no blog alertando para esse risco a longo prazo. Recomendo dar uma lida em “ETF e Ações sem dividendos, saiba porque não investir nelas” e nesse “Ações de Crescimento vs Dividendos” para começar a entender melhor sobre esse assunto. Por hora, coloque em mente que os dividendos são cruciais para quem deseja construir uma carteira de ações para aposentadoria.
Sempre ao olhar os números de dividendos e lucros, olhe sempre pelo número de ações.
Número de ações decrescente
Uma empresa na bolsa é como um bolo. Vamos imaginar que esse bolo precisa de ser dividido, sendo cada pedaço o que chamamos de “Dividendo por ação” ou DPA ou DPS em inglês. Se você tem um bolo para dividir para 10 pessoas e o mesmo bolo para dividir para 100, obvio que o primeiro cenário o pessoal receberá uma fatia maior do bolo. Quando uma empresa está na bolsa ela tem uma quantidade de ações, isso séria como a quantidade de pessoas que tem direito nesse bolo.
No mercado americano, muitas empresas costumam re-comprar suas ações para que as pessoas que são sócias da empresa tenham que dividir o bolo com o menor número de pessoas. Portanto, ao analisar a empresa busque empresas que estejam com o número decrescente de ações.
Quando uma empresa está com seus números de ações crescentes, isso significa que ela está diluindo os acionistas atuais. Você está como sócio do bolo aí vem uma pessoa e diz, olha eu estou trazendo aqui meu cunhado (sim é sempre o cunhado filando) para participar da festa, ele não foi convidado no início quando você estava, então agora todos terão que comer menos bolo. Isso é ruim a longo prazo e isso tira valor do acionista.
Taxas de crescimento receita, lucro e dividendos
Olho a taxa de crescimento no período chave de alguns indicadores como Receita, Lucro por ação e Dividendos por ação. Apesar de não ter taxas de crescimento especificas em mente, eu normalmente uso 5% ao longo de uma década, o mais importante é comparar essas taxas com os concorrentes do mesmo setor.
No longo prazo o mais importante é o crescimento das receitas e lucros.
— Viver de Dividendos (@VDividendos) January 28, 2024
Elas são os indicadores primários, sem q elas cresçam o resto não irá acompanhar pic.twitter.com/tifGPhxcqM
Como buscamos empresas de crescimento de dividendos. Para isso precisamos de ter mais lucros, para ter mais lucros precisamos de crescer as receitas. Olhar esse tripé de crescimento: receita, lucros e dividendos é fundamental para entender se essa empresa está saudável. Gosto de olhar taxas de crescimento do último ano, 3 ano, 5 anos e 10 anos.
A taxa de crescimento dos dividendos, juntamente com o yield, são os pilares da minha estratégia de 12 por 24.
Payout
Payout vai mostrar o quanto do lucro a empresa retornou em dividendos. Lembra do bolo que falamos acima, vamos dizer que dos 100 pedaços, essa empresa distribuiu 30. O Payout é de 30%, bem simples de entender.
Manter um crescimento de dividendos saudáveis passará por uma taxa de Payout equilibrada. A empresa que tiver um alto Payout aumenta o risco de corte nos dividendos. Também um Payout baixo é pouco convidativo, pois você receberá um dividendo menor e seu retorno dependerá mais do valuation da empresa e isso é arriscado, leia mais para entender: Dividendos e sua importância.
A empresa que estiver crescendo dividendos e ao olhar para o Payout, esse também estiver crescendo, então esse crescimento é artificial. A empresa não conseguirá manter isso por muito tempo. Uma hora a conta não vai fechar e ela precisará de cortar os dividendos.
Quando uma empresa corta os dividendos os acionistas perdem, tanto no retorno dos dividendos quanto na valorização do ativo. Para evitar isso olhe para Payouts abaixo de 80%. Lembre-se quando disse que análise fundamentalista é um pouco de arte. Nesse caso precisará de entender o perfil da empresa, tem tipos de negócios que são mais não cíclicos e permitem ter Payout maior.
Muitos investidores acreditam que ganham mais com as empresas que distribuem quase todo o dividendo, ou seja, tem payout alto. Você irá observar que ações com altos payouts tem taxas de crescimento de dividendos menores. A taxa de crescimento desses dividendos irá te trazer mais retorno do que o montante que a empresa pagou. Leia mais e entenda: Escolha empresas pelo crescimento do DPA e não pelo Dividend Yield: DY vs DPA.
Dividend Yield
Dividend Yield talvez seja o indicador mais famoso para quem investe em dividendos. Muita gente adorar olhar Dividend Yield para saber se a empresa é boa pagadora de dividendos. Enorme erro pois o Dividend Yield é atrelado ao preço do ativo e por alguma notícia ou alguma dificuldade no cenário macroeconômico a empresa pode parecer uma boa pagadora de dividendos sendo que não é.
Uma vez que o preço cai e o dividendo permanece estável, isso pode ser facilmente “manipulado” pelo mercado, dando a sensação de que ficou barata. Por outro lado, uma empresa pode-lhe render ótimos dividendos mais estar com o preço mais alto que seu histórico. É um indicador bem perigoso, tome cuidado.
DY é também utilizado, erradamente, por alguns para dizer se uma ação é cara ou barata. Falaremos, logo abaixo, sobre como analisar o preço de uma ação com o DCF. Não deixe de investir em uma empresa porque você acha que seu Yield é baixo.
Análise o potencial de crescimento da empresa. Nesse post: Como dobrei meus dividendos em 3 anos explico com um caso clássico aqui do blog. A Visa Inc, tem um yield baixo, mas já me entregou mais dinheiro que muitas ações com altos yields. Como complemento desse assunto ainda temos esse outro post: DPA x Yield.
Como a maioria das coisas na vida, a chave é equilíbrio. Ou você busca um ativo mais equilibrado em todos os sentidos, coisa que você não encontrará fácil e nem muitos, ou equilibra sua carteira. Isso é o que chamamos de diversificar: Diversificação o que é e qual a quantidade ideal de ações que tenho que ter. Diversificar entre ativos que tenham baixo yield e altos yields. Tente construir um mix de ativos que combinados façam um bom equilíbrio.
Quando falamos de Dividend Yield, não podemos esquecer de comentar sobre Yield On Cost. YOC vem a ser o dividendo anual mais recente dividido pelo preço que pagou para adquirir as ações. Entenda mais sobre o Yield ON Cost:
Gestão da dívida
Dívida é um grande vilão, se mal utilizada. Olhe o endividamento da empresa para entender para onde está indo o seu dinheiro. Assim quando na esfera pessoal é no mercado de ações, um endividamento fora do controle pode afetar negativamente nossa vida. Tem empresas que utilizam a dívida para crescer, isso não é problema, desde que esse crescimento gere caixa e permita pagar esses endividamentos.
Temos alguns indicadores importantes para entender melhor se a empresa está endividada ou não. É muito comum vermos investidores olhando o endividamento e comparando com PL ou EBITDA, não vejo isso como uma abordagem sensata.
Olhar o tamanho da dívida não diz se a empresa está endividada ou não. Vamos dizer que você tem uma renda de 100 mil por mês e uma dívida de 10 mil, enquanto que seu vizinho ganha 10 mil por mês de renda e tem uma dívida de 5 mil para pagar. Observe que a dívida dele é metade da sua, mas sua capacidade de pagamento é muito superior, nesse caso o seu vizinho encontra numa situação de estar mais endividado que você.
O principal indicador que olho em questão de dívida é o ICJ – Índice Combinado de Juros e falo mais sobre ele nesse artigo: Como analisar a dívida de uma empresa.
O ICJ vai indicar a capacidade que a empresa tem de pagar suas dívidas, isso é melhor do que analisar a dívida por tamanho. Dê a devida atenção a essa parte, pois se uma empresa não tiver uma dívida equilibrada, quem estará ganhando dinheiro com ela será os credores e bancos com seus juros.
Margens operacional
Nós temos como calcular 3 tipos de margem, sendo Margem Bruta, Margem Operacional e Margem Líquida. O que mais se vê por aí é o pessoal analisando Margem Liquida. Infelizmente é o pior indicador dos 3 porque a margem líquida é manipulada facilmente por depreciações, amortizações e não recorrente. Prefiro olhar para a Margem Operacional, que é calculada dividindo o lucro operacional pela receita.
A margem operacional é importante para efeito comparativo, se uma empresa possui uma margem operacional maior que os outros pares do seu setor, significa que ela é mais eficiente do que os concorrentes. Além do fato que empresas com boas margens operacionais tendem a passar melhor por crises e recessões.
Se a empresa está enfrentando uma concorrência a sua margem operacional pode diminuir, muitas vezes a margem caí antes das receitas e dos lucros, por isso a margem operacional é um indicador muito importante para sabermos se a empresa está enfrentando problemas.
Peguemos por exemplo caso da Nokia que em 2012 perdeu 90% do seu valor, quem acompanhava as margens entendeu que ela estava com problemas e pulou fora bem antes, pois as margens vinham caindo desde 2002 mesmo que no mesmo período lucro por ação até chegou a aumentar.
Medir eficiência das empresas
Olhar a eficiência da empresa pode ser vantajoso, pois é um dos primeiros locais onde sinaliza-se problemas maiores no balanço. Geralmente antes de vermos um corte de dividendos, começamos a ter ruídos nesses indicadores. Para analisar a eficiência de uma empresa utilizo alguns indicadores como:
- Prazo para recebimento das vendas da empresa
- Giro de estoque
- Prazo para empresa pagar seus fornecedores
O compilado desses três indicadores acima formam o CCC ou Giro de caixa. Esse indicador vai nos dizer quanto tempo leva para o dinheiro investido pela empresa completar um ciclo, ou seja, passar no fornecedor, transformar-se em mercadoria, aguardar a venda, receber a venda e virar dinheiro líquido para um novo ciclo.
Geralmente olho esses indicadores uma vez por ano. Não acho que seja necessário acompanha-los todo o trimestre e na primeira análise sempre comparo a eficiência da empresa com os seus concorrentes e olhando numa base histórica do período chave, observando se tivemos uma melhora ou piora.
Fluxo de caixa livre – FCL
Fluxo de caixa Livre é o que sobra de dinheiro na empresa no final do período. Ele é um dos mais importantes parâmetros para medir o poder de ganho da empresa por parte dos investidores de valor, pois não está sujeito a depreciação, exaustão e amortização.
O FCL pode ser interessante para análise de ativos que tenham grande depreciação ou amortização. Nesse caso, algumas empresas industriais, de software que tem intangíveis muito grande, entre outros segmentos. Para essas empresas é interessante olharmos o FCL ao invés dos Lucros.
Tem algumas empresas que possuem o FCL negativo porque investem muito para o crescimento. Não gosto muito desse estilo de crescimento. Para fazer isso a empresa precisa de diluir os acionistas ou tomar dinheiro no banco, nós dois casos nós saímos perdendo caso o crescimento não atinga das expectativas.
Portanto, procuro fugir de empresas com FCL negativo. Um ou dois anos consecutivos até relevo porque pode ser fruto de eventos não recorrentes, passando disso eu abro uma sinal de alerta.
Valuation com DCF
Essa é a parte onde verificamos se uma empresa está cara ou barata. Alguns investidores gostam de olhar para o P/L (preço sobre lucro), que é a divisão do preço pelo lucro. Esse indicador é bom para analisar se no passado foi pago caro ou barato pela empresa. No presente, o mercado sempre trabalha com a perspectiva de crescimento futuro. Portanto, qualquer indicador utilizado para precificar uma empresa deve, obrigatoriamente, projetar o crescimento futuro.
Embora eu não use o DCF como indicador para determinar se a empresa deve ou não entrar na carteira, gosto de mensurar o valor justo do ativo para ao menos ter uma ideia do que estou comprando. Acredito que a análise qualitativa pode indicar pontos positivos na empresa que me levem a desconsiderar o fato de estar comprando acima do valor justo. Para nós, pequenos investidores, e com aportes mensais no longo prazo, o preço de compra de uma empresa não faz muita diferença.
O método do Fluxo de Caixa Descontado (DCF) é amplamente utilizado para determinar o valor intrínseco de uma empresa com base em suas projeções de fluxos de caixa futuros. Essencialmente, o DCF calcula o valor presente dos fluxos de caixa futuros que a empresa pode gerar, descontando-os a uma taxa que reflita o risco associado a esses fluxos. Isso proporciona uma estimativa do valor justo da empresa, permitindo que os investidores comparem esse valor com o preço de mercado atual.
Apesar de ser uma técnica poderosa, o DCF requer estimativas precisas e bem fundamentadas sobre o crescimento futuro da empresa, o que pode ser desafiador. No entanto, ao usar o DCF em conjunto com uma análise qualitativa detalhada, os investidores podem obter uma compreensão mais completa do verdadeiro valor da empresa e tomar decisões de investimento mais informadas.
Apesar de não utilizar o DCF como decisivo na escolha de uma empresa, gosto de aplicá-lo na hora dos aportes. Leia neste artigo onde explico mais sobre esse método de precificação utilizando o Fluxo de Caixa Descontado.
A variação da sua cotação
A cotação tende a acompanhar os lucros, isso não temos dúvida. Ainda sim acho importante olhar para o histórico de preços para termos uma idéia de como foi a trajetória até aqui. Se você fez uma boa análise de seus fundamentos os preços não devem impactar na sua decisão. Agora se não conseguiu analisar a empresa pelos seus fundamentos e está apenas olhando a variação do seus preços, terá uma grande chance de fracassar nesse investimento.
Gosto de olhar como foi a evolução do ativo no ano, nos últimos 3, 5 e 10 anos. Dou uma atenção especial em como está a cotação da empresa olhando as últimas 52 semanas. Isso não decide a minha posição, não vai definir se vou ou não colocar a empresa na minha carteira de ações.
Já falamos aqui diversas vezes sobre escolha empresas pelo crescimento do DPA e não do DY, mas nunca me canso, pois olhar cotação é algo que mais prejudica os investidores: invista regularmente e não se preocupe com P/L. Quantas vezes deparamos com pessoas que deixaram de entrar em determinados ativos pois achavam que estava caro.
Não vou deixar de comprar uma Microsoft porque ela está em seu topo histórico. Meu raciocínio é se a empresa está crescendo lucros, receita e todo o resto está ok, coloque-a na carteira e aporte mais nela. O cara que ficou esperando a Microsoft baratear está até hoje aguardando.
Veja o retorno total do ativo
Olhar só o quanto o ativo cresceu a nível de cotação e como olhar uma pintura pela metade. Precisamos de entender o retorno total de um ativo: como calcular o retorno total de uma ação na bolsa.
Sabemos que resultados passado não garantem o futuro. Ainda sim, gosto de olhar como foi os últimos 10 anos ou talvez o período em que a empresa começou a aumentar dividendos até hoje. Vejo se o retorno anual é satisfatório com a minha meta para a empresa. Note, que deve-se considerar nisso o valuation da ação e o quanto ela gerou de dividendos para você.
Veja o exemplo da Microsoft que começou a subir dividendos desde 2003, então puxo esse período e vejo o quanto ganharia no meu CAGR. Um CAGR de 15% é algo fantástico, bem acima da curva. Isso não garante que termos nos próximos 20 anos o mesmo retorno, mas serve para termos uma boa base do que pode nos esperar em determinado ativo.
Parte II – Análise Qualitativa
O pessoal confunde um pouco as coisas e muitas pessoas acabam levando para o lado extremo da análise de empresa, tem gente que parece meio xiita ao analisar empresa e acha que tudo pode ser captado apenas nos números, não estou aqui falando que os indicadores da empresa não são importantes, mas apenas que eles devem ser usados junto com uma boa dose de feeling.
Esta fase de análise é onde pergunto-me sobre a empresa:
- Como ela faz dinheiro?
- Ela conseguirá ser capaz de continuar a fazer dinheiro no futuro usando o modelo de negócio atual?
- As pessoas gostam dos seus produtos? Porque e porque não?
- A empresa tem uma boa reputação?
- Qual o cenário competitivo?
- Existe um ambiente regulatório favorável ou desfavorável?
- A empresa se diversificou ou estão excessivamente confiantes em um produto ou serviço?
- Eles são capazes de se transformar, quando necessário?
Responda essas perguntas em um formulário e isso irá te ajudar a entender bastante sobre a empresa. Além desse entendimento do case de negócio, precisamos olhar outros aspectos como as vantagens competitivas (fosso econômico), a administração, o tempo da empresa na bolsa, onde a empresa atua e sua sede, se é uma empresa regional ou multinacional.
Fosso econômico
Um termo cunhado por Warren Buffett, é importante olhar para cada empresa como um castelo. E em torno deste castelo existe um fosso. E é esse fosso que protege a empresa contra as hordas de concorrentes que tentam destruir o castelo. Quanto maior o fosso é mais provável que a empresa será rentável por muitos anos. Tenho um artigo aqui que aprofundamos sobre esse assunto: Escolha empresas com fosso competitivo.
Temos algumas vantagens competitivas que podemos destacar como principais:
- Economia de escala
- Marca
- Barreiras de entrada
- Elevados custos de transferência
Esses são os quatro pilares, mas temos cerca de 14 fossos competitivos catalogados aqui no blog: Os 14 fossos competitivos que você não conhecia e 4 que você já sabia!
A marca é um fator determinante na escolha de um produto. Durante anos, a Coca-Cola – KO foi a principal marca do mundo, exemplificada pela resposta comum de “Então me vê uma garrafa de água” quando um cliente descobre que não há Coca-Cola disponível.
Recentemente, a Apple – AAPL desbancou a Coca-Cola como a marca mais valiosa, segundo a Bloomberg, e seus produtos são significativamente mais caros que os da concorrência, graças ao poder de sua marca. Esse poder proporciona uma vantagem competitiva significativa, permitindo à empresa manter preços premium, garantir melhores margens e proteger-se contra a inflação.
A fidelidade à marca também permite que a empresa repasse aumentos de custos para os clientes, mantendo sua rentabilidade mesmo em cenários econômicos adversos.
CEO e Ownership
Conheça o CEO: entenda sua trajetória, o tempo que está na empresa e suas conexões anteriores. É importante saber se ele é novo ou antigo no cargo e se realizou transformações significativas. Uma boa administração é crucial para o sucesso ou fracasso do negócio. Para um exemplo prático, assista ao vídeo “Adobe – Balanço comentado 2T24“, onde há uma parte dedicada à análise da administração.
- Nome do CEO
- Idade
- Quanto tempo ele começou na empresa
- Quanto tempo ele é CEO
- Ele é homem ou mulher: existe uma mística de que as empresas controladas por mulheres na bolsa não tendem a ir muito bem. Eu tenho umas 5 empresas controladas por mulheres, isso não faz diferença se ela for competente. Toda via tem gente que se preocupa bastante isso, então coloque na sua lista porque bater o mercado não é você e sim tentar pensar em como o mercado se comportará.
- Visão politica do CEO e da empresa: aqui podemos ver em quem a empresa está doando dinheiro nas campanhas politicas. Muito de quem ela apoia politicamente vai dizer se irá beneficiar ou não do politico no governo.
- Aquisições que foram feitas desde que ele assumiu: veja se essas aquisições foram positivas. É uma informação difícil de capturar na mídia, mas as vezes tem algumas pistas.
- Veja se a empresa está altamente envolvida em pautas ESG: essa é uma maneira fácil e prática de sabermos se a empresa está preocupada com pautas ideológicas ou em fazer dinheiro. Em resumo, se a empresa tem altos índices de ESG é um alerta. Pois indica que ela irá contratar colaboradores por questões ideológica e não por competência e isso a longo prazo tem uma conta alta para nós acionistas. Evite empresas que sejam ancoradas na ESG. ESG é um sigla para indicar o quão esquerdista a empresa é!
Investidores frequentemente monitoram níveis de insider e institutional ownership como parte de sua análise de ações. Mudanças nesses níveis podem sinalizar confiança ou desconfiança na empresa.
Insider Ownership refere-se às ações possuídas pelo CEO, diretores e funcionários da empresa. Um alto nível de insider ownership gera confiança, pois indica que os líderes estão comprometidos com o sucesso da empresa, compartilhando os mesmos riscos dos investidores. No entanto, aqui é difícil encontrar números acima de 5% à 15% de Insider Ownership.
Institutional Ownership envolve grandes fundos e instituições financeiras que possuem ações da empresa. Esse tipo de ownership proporciona estabilidade ao ativo, ajudando a monitorar e avaliar seu desempenho.
Embora seja desejável que esses números sejam significativos, existe o risco de manipulação por parte da empresa, o que pode prejudicar os interesses dos pequenos investidores. Por exemplo, a Apple tem um Insider Ownership de apenas 0,1%, enquanto seu Institutional Ownership é superior a 50%, indicando que a maioria das ações está nas mãos de grandes fundos.
Atuação geográfica
Entenda como a empresa está atuando, seja a nível regional dentro do mercado americano ou como uma multinacional. Isso é importante porque há riscos e benefícios em ambas as situações.
Houve um período em que o dólar estava desvalorizado, o que resultou em resultados ruins para empresas globais como Johnson & Johnson, Coca-Cola e Procter & Gamble, que eu tinha na carteira. A desvalorização do dólar impactou negativamente os lucros repassados aos acionistas.
Ser uma multinacional apresenta riscos cambiais, mas também traz segurança. Houve momentos em que algumas empresas que eu possuía não tiveram um bom desempenho devido à fraqueza da economia americana naquele ano. Nesse contexto, as multinacionais conseguiram manter resultados mais estáveis devido à diversificação geográfica de suas operações.
Como mencionado anteriormente sobre diversificação (ver post: 8 – Diversificação: o que é e qual a quantidade ideal de ações), é crucial diversificar em ativos com diferentes características para equilibrar os riscos e aproveitar as oportunidades.
Takeaway
Concluir uma análise de empresas na bolsa de valores envolve a combinação de indicadores quantitativos e qualitativos para obter uma visão abrangente do potencial de investimento.
A análise quantitativa fornece uma base sólida ao examinar números como receita, lucros, dividendos, margens operacionais e gestão da dívida. Esses indicadores ajudam a identificar a saúde financeira da empresa e seu potencial de crescimento. No entanto, a análise qualitativa é igualmente crucial, pois permite compreender fatores como a competitividade do setor, a qualidade da administração, a reputação da empresa e sua capacidade de adaptação e inovação.
A integração dessas duas abordagens oferece uma perspectiva mais completa e robusta para tomar decisões de investimento informadas e estratégicas. Ao dominar esses indicadores e técnicas de análise, os investidores podem construir uma carteira de ações mais resiliente e diversificada, capaz de oferecer retornos consistentes a longo prazo.
Antes de comprar uma ação, leia o balanço completo dela. Depois que ela estiver na sua carteira aí você vai entrar na etapa de manutenção, aqui será mais simples de gerir, recomendo a leitura desse material para essa etapa: Como gerencio minha carteira de dividendos.
É essencial lembrar que não existe uma fórmula mágica para o sucesso no mercado de ações; cada investidor deve adaptar as metodologias às suas próprias necessidades e perfil de risco. Além disso, a constante reavaliação das empresas e do cenário econômico é fundamental para ajustar estratégias e garantir que as decisões de investimento continuem alinhadas com os objetivos financeiros de longo prazo. Com dedicação e estudo, qualquer investidor pode se tornar mais confiante e eficaz na seleção de empresas promissoras para sua carteira.
Temos outros posts com dicas de análises e indicadores específicos para outros tipos de ativos: